Filmar COMO o Manoel de Oliveira? NÃÃÃÃÃÃOO!!
Os nossos 20 anos de diferença não são desculpa para seus filmes serem tão chatos, HÁ 20 ANOS os seus filmes JÁ ERAM CHATOS! |
Num país onde fica mal dizer-se que se leu isto ou aquilo, confesso que de vez em quando deu uma vista de olhos no site do Correio da Manhã, geralmente para saber qual o DVD (+1.95€) de sexta-feira ou saber quais são as más notícias do dia ( que esse jornal é pródigo a anunciar ). Também gosto de ler as exposições descaradas que fazem das tramas do nosso (des)governo sem vergonha, infelizmente sem nenhuma repercursão a não ficarmos ainda mais deprimidos e com sentirmento de culpa por termos votado nesses estafermos.
Mas voltando ao artigo, isto é um blog de cinema e aqui transcrevo ( sem autorização ) um texto que está na edição online de 25 de Outubro do Correio.
Clint Eastwood aponta Manoel de Oliveira como exemplo
“O actor e realizador norte-americano Clint Eastwood apontou o cineasta português Manoel de Oliveira como um exemplo a seguir, esperando continuar a fazer filmes tanto tempo quanto o autor de 'Vale Abraão', que está perto de comemorar o 102.º aniversário.
Falando a jornalistas no Festival de Cinema de Nova Iorque, onde foi apresentar 'Hereafter', a sua nova longa-metragem, o realizador de 80 anos negou ter planos para reformar-se. "Há um português com mais de 100 anos que continua a fazer filmes. Planeio fazer a mesma coisa", garantiu Eastwood. Na mesma conferência de imprensa, Eastwood disse que nunca entendeu a razão de cineastas como Frank Capra e Billy Wilder terem deixado de realizar aos chegarem aos 60 anos.”
Pois bem, ao honorável e gigantesco Clint Eastwood só posso pedir um aplauso em pé pela sua humildade. Porque aqui temos um realizador/actor que financiou os seus próprios projectos muito intimistas e pessoais com o que ganhou com papéis de actor duro-de-roer que passava a maior parte do tempo a partir os cornos/rebentar os miolos dos vilões, ao mesmo tempo que com um simples olhar dizia "vou-te matar a ti, aos que vieram antes de ti e já morreram e aos que ainda estão para vir e nem vão ter tempo para nascer". Porque aqui temos um realizador/actor cheio de coragem que nos fez esquecer que por trás de um Harry Callahan ou um sargento de ferro está alguém que se atreveu junto com outro durão do cinema chamado Lee Marvin entrar( e cantar) numa comédia musical disfarçada de western, ou num melodrama romântico muito apreciado por mulheres casadas de meia-idade. Porque aqui temos um realizador/actor com uma série nomeações e prémios ( incluindo Oscars ) bem merecidos.
E principalmente porque ( e é aqui que provavelmente a maltinha intelectual, alguns com cursos de cinema me vai cruxificar ou simplesmente chamar-me fascista decadente ) um filme de Clint Eastwood é infinitivamente mais interessante que a obra inteira do Sr. Manoel de Oliveira! Sr. Eastwood, a sua humildade e elogio a uma nação como a nossa que cada dia que passa tem mais vergonha de si própria é de agradecer, mas julgo eu que nunca viu um filme de Manoel de Oliveira. Que o tome como exemplo continuar a filmar até aos ( e se possível para lá dos ) 100 anos, então que cumpra muitos porque é bom saber que uma das cinematografias mais interessantes dos últimos 20 anos se estenderá por muitos mais. Mas por favor não seja tão humilde ao ponto de se “humilhar” comparando-se com a viva imagem do cinema português; lento, antiquado, desinteressante, penoso, etc. Porque o cinema de Manoel de Oliveira é como ele próprio: parado no tempo. Não envelhece…mas também não sai do sítio. E por mais que se carregue no FFWD…continuamos com os mesmos filmes de terror; filmes de terror com zombies que estão ( muito ) mais mortos que vivos e que conseguem matar os espectadores de tédio.
Porém, e antes que os intelectais me venham atirar com tudo em cima incluindo claro citações em francês de autores que eu nunca ouvi falar( se bem que isso provavelmente não aconteça porque ninguém lê este blog)…talvez a culpa seja minha! Talvez eu não tenha a humildade para me considerar mais que um portuguesinho burguês e inculto, 1 burru incapaje d izcrever 1 fraxe xem dár errus! Talvez eu não tenha o valor suficiente para reconhecer a sua extensa obra de mais de 50 filmes…mas quantos desses foram “tragáveis”? Talvez eu não tenha a personalidade para reconhecer que filma pelo prazer de filmar e não pelo êxito…se é assim quem financia os tais filmes que não são vistos por ninguêm, tal passatempo pessoal? Talvez eu não tenha respeito pelos mais velhos ou seja pura e simples inveja…pois bem, por respeito a tal extensa obra seria tão bom que tal servisse de exemplo para os nossos jovens talentos em vez de aliená-los ou fazê-los fugir a sete pés do cinema português…
Enfim…continuamos sendo o país dos recordes sem grande sentido, mas talvez isso faça parte da nossa identidade: o realizador em termos quantitativos com a maior e mais aborrecida cinematografia; o país com os jogadores de futebol mais caros, tão caros que só jogam no estrangeiro e quando vêm jogar para a selecção nacional por tuta-e-meia só nos fazem passar vergonhas; o país das tradições tão bolorentas que cheiram a podre, e que tenta progredir com modernices que só cheiram a nojo; o país do recorde do maior bolo-rei, do maior pão de ló, do maior “coloque neste espaço o género alimentar”; o país com maior número de recordes parvos como encher mais balões em tanto tempo; e provavelmente o país democrata com a maior e mais descarada corrupção per capita do mundo; porque haverá sempre alguém a querer comparar-nos com o 3º Mundo para nos lembrar que até não estamos mal de todo…