quinta-feira, 22 de julho de 2010

Crítica do dia: os filmes de Savage Steve Holland com John Cusack

O primeiro a chegar faça o favor de trazer
as camisas-de-forças...
Nesta família a loucura não corre, galopa!
 Ok ok ok, parou parou parou. Sei que soa bem estranho porque não imagino hoje em dia alguém tentar vingar no meio cinematográfico com um pseudónimo como Savage Steve Holland a não ser que esse meio cinematográfico tenha degenerado em porno, por isso podemos ficar descansados que até ao momento (talvez) a maior mancha na carreira do John Cusack foi ter entrado nesse circo cheio de efeitos especiais mas vazio de conteúdo chamado 2012...

Savage Steve Holland é um talentoso animador, pioneiro dos desenhos animados "politicamente incorrectos" e isto revela-se nos seus dois filmes mais conhecidos: BETTER OFF DEAD(1985) e uma "quase-não-oficial-sequela/remake" ONE CRAZY SUMMER (1986). Ambos filmes tornaram-se obras de culto pelo seu humor completamente absurdo, e quando falo em absurdo não falo em parvoices tão más que não chegam a ser boas ( qualquer filme dos criadores/realizores/produtores/cagadores de Scary Movies e outros Crappy Movies ), mas sim pela absoluta demência, como se o nosso mundo real fosse o mais parecido com uma disparatada banda-desenhada, cheia de personagens caricatos e situações que, aos olhos de quem veja estes filmes, podem ir da absoluta genialidade à absoluta estupidez.
"Morrer sem estar doente é doentio"
Mas a sua mais valia é serem os primeiros filmes onde John Cusack teve o papel principal, e isso para bem ou mal definiu a sua carreira. Porque é ponto acente que é um excelente actor que inspira simpatia nos seus papéis; infelizmente parece que em cada filme que entra limita-se a fazer o mesmo papel uma e outra vez: o gajo simpático e azarado a quem a namorada deu com os pés, ou que por alguma razão está mesmo à rasca com a vida. Porém talvez seja mesmo por isso que é tão fácil gostar deste actor...é o santo padroeiro dos losers, talvez o (anti)herói definitivo por ser tão pouco convencional, a esperança que aqueles menos afortunados com a vida têm com um happy end onde tudo acaba bem porque afinal acabamos sendo todos um pouco como ele...
Ainda haverá um dia que este actor tenha o reconhecimento merecido, afinal o Jeff Bridges só ganhou o Oscar ao fim de 5 nomeações...mas o Cusack continua sendo menosprezado pela Academia, onde está a nomeação por HIGH FIDELITY?

                                                                                 
BETTER OFF DEAD
Os cartazes originais são
bem fixes mas mais uma
vez a capa do DVD é una mierda....
Voltando ao(s) filme(s) de Savage Steve Holland...é possível fazer a análise dos dois filmes conjuntamente porque basicamente ambos são o mesmo, apenas mudam as personagens, situações e meio. Em BETTER OFF DEAD John Cusack é Lane, um jovem obcecado ( e quando digo obcecado imaginem uma parede repleta de fotografias ) com a sua superficial namorada que lhe dá com os pés para namorar com o ricaço loiro arrogante ( uma personagem típica nas teen movies dos anos 80 ). Nisto aparece a estudante francesa de intercâmbio "refêm" dos horriveis vizinhos do lado. Junte-se a isso um irmão mais novo com mais sucesso com as mulheres, uma mãe com a fixação da cozinha artística e um pai que não se sabe bem que lhe passa na mona e estão os ingredientes lançados para uma vida deprimente e "suicidável" ( "nesta família a loucura não corre, galopa" ). E entre tentativas de suicídio e tentativas de recuperação, o filme é uma sucessão de personagens bizarras e situações completamente absurdas e surreais. 
"Eu quero os meus dois dólares JÁ!"
Destaque para um puto dos jornais que é um autêntico paperboy from hell,e que pontualmente aparece para cobrar a sua comissão de 2 dólares...como um Terminator em missão de extermínio. Curtis Armstrong ( lembram-se do fiel assistente do Bruce Willis em MODELO E DETECTIVE? ), um regular nos filmes de Holland tem as melhores deixas: "esquiar é fácil, vais lançado a toda a velocidade e se algo aparece na frente...desvias-te; estou nesta escola há sete anos, sei como as gajas pensam...não sou nenhum parvo; ISTO É NEVE, PURA NEVE ( neve/cocaina=snow), sabes o valor desta montanha nas ruas? ".


Não se deixem enganar, deve ser das cenas
( e personagens ) mais normais neste filme 

Minha escolha pessoal para cena buéda-bem-filmada: Tecnicamente as cenas de animação e de ski estão excelentemente filmadas, mas eu pessoalmente vou pelos street racers chineses ( um não fala inglês e o outro aprendeu inglês num programa de desporto )...é assim, conseguem imaginar-se parados no semáforo e ao lado está SEMPRE um carro com dois chineses a desafiar-vos para uma corrida? Pois, bem me parecia que não...mas até isso acontece neste filme.

Pronto, tá tudo dito... alguém ou abusou
ou esqueceu-se dos comprimidos.
Momento absolutamente absurdo: perguntar por um momento absolutamente absurdo neste filme é como pedir para encontrar uma agulha...no meio de um monte de agulhas. O filme em si é uma experiência absurda. Eu vou pelos hamburgers cantores (!!!!)




Trailer:



Better Off Dead, EUA 1985
Realizador: Savage Steve Holland
Argumento: o mesmo maluco, Savage Steve Holland
Com John Cusack, Diane Franklin, Curtis Armstrong...

                                                                                                          

ONE CRAZY SUMMER
Era uma vez uma jovem actriz
que ainda não se casara nem
divociara do Bruce Willis nem com o
 outro gajo 20 anos mais novo...
e ainda não tinha mamas de silicone
ONE CRAZY SUMMER é bastante mais soft e ingénuo mas continua a ter todos os ingredientes, junte-se a isso uma pré-siliconada Demi Moore e novamente Curtis Armstrong...e junte-se o histérico Bobcat Goldthwait ( mais conhecido como o histérico Zed das Academias de Polícia ) e um Jeremy Piven ( Entourage ) como sempre num papel secundário e já a mostrar sinais de perda de cabelo em início de carreira e temos uma uma bizarria ( talvez seja melhor dizer maluquice ) não tão negra e talvez mais sentimental que o filme anterior ( roçando a comédia romântica não fosse a catadupa de disparates logo no início do filme ). Grupo de amigos ( incluindo a irmã mais nova assustadora e seu cão aleijado ) vão passar as férias do verão na bonita zona de Nantucket e a partir daí sucedem-se as parvoíces como sejam salvar a casa da miuda gira vencendo uma corrida contra mais um beto loiro rico e arrogante com pai viciado em lagostas... e continuam os segmentos animados com um genial e desafortunado "rinoceronte com feios sapatos de vela(?????)" que não encontra o verdadeiro amor e é constantemente gozado pelos "coelhinhos girinhos e fofinhos" até que solta a sua Uzi e... bem, deu para entender? Não? Pois é...só mesmo visto.
Em 1986 os sapatos de vela estavam na moda para todos,
25 anos depois só os betos os usam...e dizem eles
que estão na moda
Ao contrário de BETTER OFF DEAD o filme foi menosprezado pela crítica e público mas não deixa de ser engraçado prestar atenção à "homenagem" que Holland fez aos conhecidos e polémicos críticos Siskel e Ebert; o ódio fervoroso que mostraram por este realizador levou a que dois dos coelhinhos girinhos e fofinhos ( que depois explodem em pedaços ) tivessem uma parecença mais que óbvia com eles.

Momento absolutamente absurdo: vou atirar à sorte...hum, colocar a traseira de um Ferrari num barco para este navegar mais rapidamente (?????????????????????).

Minha escolha pessoal para "cena buéda bem filmada": bem...a cena "à Godzilla" parte a loiça toda...ou melhor, a maquete da futura urbanização...


Ok...depois deste texto uma pessoa ou fica com curiosidade em ver o(s) filme(s) ou pensa que eu tou maluco...
Trailer:

One Crazy Summer, EUA 1986

Realizador: Savage Steve Holland
Argumento: outra vez o mesmo maluco, Savage Steve Holland
Com John Cusack, Demi Moore, Bobcat Goldthwait, Curtis Armstrong, Matt Mulhern, Jeremy Piven...

                                                                                   

Porém...
John Cusack desvalorizou BETTER OFF DEAD na altura ao dizer que este filme tinha dado cabo da sua carreira. Estranhamente viria a trabalhar novamente com Savage Steve Holland em ONE CRAZY SUMMER. Talvez para fazer um favor? Talvez em agradecimento? Talvez em arrependimento ou vergonhosa necessidade? Cuspiu no prato e depois quis comer novamente? Nunca se saberá porque parece que ao fim destes anos todos ambos continuam de relações cortadas mas parece que desde então...John Cusack faz o mesmo papel de sonhador desiludido uma e outra vez. Será que destruiu a sua carreira e o afastou de papeis mais variados ou pelo contrário construiu-lhe um mercado e afinal ele não é assim tão talentoso? Digam o que disserem é assim que eu gramo o Cusack, o (anti)herói das vidas mais azaradas...

Factor geek:
Ora bem...estamos a falar de comédias dos anos 80 com o John Cusack como jovem deprimido e dirigidas por um realizador de culto. Não é John Hughes  mas tão pouco estamos a falar de coisas mais sérias ou conhecidas, e temos segmentos de animação completamente disparatados.... ainda perguntam quão alto é o factor geek?

O meu Veredicto:
Recomendado a nostálgicos das comédias ( menos conhecidas ) dos anos 80 ou simples curiosos em saber até que ponto se consegue reproduzir na vida real as situações cómicas de um cartoon sem ter que recorrer a elaborados efeitos especiais...ou quem pensa que já viu de tudo. Haverá quem ache isto genial, e haverá que ache que são os filmes mais parvos que alguma vez vistos. E claro, tem o John Cusack a fazer de loser, o que por si é razão para ver o(s) filme(s)...

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Crítica do dia: NAPOLEON DYNAMITE

Epa, Napoleão também era um grande cromo e conquistou metade da Europa!


A todos nós já aconteceu alguma vez na vida termos que falar ou tentar explicar algo, uma espécie de guilty pleasure que nem à pedrada conseguimos convencer nem aos outros e pior, nem a nós próprios o porquê de tanta admiração. Talvez seja essa a verdadeira essência do fenómeno cult...não conseguimos explicar a adoração em algo que nem mesmo nós acreditamos, por isso aí vai uma análise a um verdadeiro e (ine)explicavelmente practicamente desconhecido fenómeno de culto cá por estas bandas: NAPOLEON DYNAMITE, de Jared Hess. E esta é sem duvida das críticas mais complicadas que aqui remeto, por várias razões: 1 - confesso que gosto mesmo muito do filme pelas suas próprias e bem estranhas qualidades; 2 - gosto do filme por razões pessoais; 3 - quanto mais cedo falar do filme melhor, porque em posts posteriores falarei de outros filmes que invariavelmente têm algo em comum com este e convêm que se saiba que "coisa" é esta. Enfim, aí vai a minha crítica, análise, pensamento sobre NAPOLEON DYNAMITE.


Que posso dizer de um filme que sem bem se saber como se tornou um fenómeno de culto do cinema independente aquando do seu lançamento nos EUA em 2004? Sempre segui mais ou menos atentamente o site http://www.imdb.com/ ( a Bíblia de todos os Cinéfilos de Sofá espalhados por este mundo fora ) e fiquei com curiosidade em saber como um filme que apenas custou 400 mil dólares ( uma bagatela ) acaba arrecadando 46 MILHÕES de dólares ( são mais de 115 vezes o que custou ) quando um filme de estúdio de baixo orçamento normalmente custa mais que esse 46 milhões e muitas vezes nunca os recupera.


De facto o filme teve estreia em Portugal, como tantos outros, no mercado doméstico, com o duvidoso título tuga UM NOVO HERÓI, e nada de cheerleaders ou miudas giras em bikini na capa, em vez disso temos o "herói" em questão num horrível fato "vintage" castanho, com o seu horrivel jewfro ( quem não sabe o que é provavelmente usa um e devia pensar seriamente em mudar de corte de cabelo ) e a sua expressão deadpan ( há quem diga cara de parvo ) que se mantem durante todo o filme. Pergunto-me quantas pessoas o terão alugado cá em Portugal, e dessas pessoas quantas não estariam à espera de uma típica comédia de adolescentes americanos, e dessas pessoas quantas não teriam desligado o leitor de DVD ao fim de 10 minutos e pensado que direitos teriam de reinvindicar para reaver ( por questão de princípios ) os 2,50€ mal gastos que teriam sido investidos em algo mais interessante como minis...
O filme começa e aparece-nos o logotipo da MTV Films...isso não é bom sinal! O genérico feito com palavras escritas em pratos da "cozinha tradicional" norte-americana promete algo um pouco melhor, mas o nariz continua a torcer...parecer "artsy" nunca é bom, especialmente numa produção da MTV, e há pratos que sejam carne ou peixe ou vegetais acabam sabendo a podre ou envenenado.
 E de facto ao fim de 10 minutos eu só pensei e direi em muito bom português "QU´ESTA MERDA?". Mas pronto, contam-se pelos dedos os filmes que me irritaram tanto ao ponto de desistir de ver, e muitos mais são os que me fizeram adormecer e como tal perder qualquer ponta de interesse que tivesse nisso. Estranhamente o filme consegue manter um interesse crescente pelo simples facto que não há um eixo central em toda a história, em vez disso temos um autêntico freakshow que é o dia-a-dia da vida de personagens próximas entre si, cada um mais esquisito que o outro. Confesso que me ri mais que em muitas "auto-entituladas" comédias com cómicos famosos merdosos, aqui o humor não é forçado mas pelo próprio ridículo das situações e personagens. Dá que pensar se será este o melhor retrato do estado do Idaho em geral e da pequena cidade de Preston ( berço do realizador e onde decorreram grande parte das filmagens ) em concreto. Por um lado temos uma bonita e montanhosa paisagem rural, paredes-meias com uma daquelas "cidades" americanas que não aparecem no mapa; por outro lado temos uma sociedade rural de pessoas da terra que fazem compras em decadentes armazéns de segunda-mão / loja tipo 150. De facto a população local parece que parou algures entre finais dos anos 80/ princípios dos 90 com as suas cassetes, roupas retro ou fora de moda e ligações online arcaicas. Não aparece um único telemóvel em todo o filme e não fosse o tema Canned Heat dos Jamiroquai como música de fundo presente na acção e muito dificilmente se poderia a história nos nossos dias. Eu diria mesmo que esta é a anti-comédia adolescente, porque todos os personagens são uns completos inadaptados, a começar pelo principal, Napoleon.


Ladies and Gentleman, it´s freakshowtime...
Napoleon: Jon Heder compõe um "herói" de tal maneira imbecil que em nenhum momento é agradável aos nossos olhos. Um personagem geek ou nerd geralmente tem algo que faça com que simpatizemos com ele, mas Napoleon é simplesmente estúpido e desagradável, em nenhum momento é simpático pois não sorri uma única vez, vive num universo de "habilidades(skills)" criadas por si próprio onde se sente importante, e daí advem grande parte da sua comicidade ("as miudas gostam é de gajos com jeito para algo, como sejam ter jeito para a pesca, jeito para caça com flechas e jeito para espionagem informática"). O seu única habilidade é desenhar...ou isso pensa ele porque o resultado final no mínimo consegue fazer soltar gargalhadas. Heder entrega-nos uma interpretação deadpan que se adapta perfeitamente à estupidez de Napoleon, para melhor ou pior: ou Heder é tão bom actor para trabalhar com um personagem que passa metade do tempo com os olhos fechados e fala sempre com a mesma expressão de parvo mas mesmo assim torna-o interessante... ou é tão mau actor que ficará para sempre associado a este papel, e as comédias posteriores a este enorme êxito não ajudaram no sentido de ser publicitado como o "astro de Napoleon Dynamite". Mesmo o mote do filme pode enganar: "O único que ele tem para provar é que não tem nada para provar". Não vendo o filme pensamos muito positivamente "Ele só quer mostrar que se está lixando para o que os outros pensam". À medida que vamos conhecendo a figurinha apenas pensamos "o único que este gajo nos tem para mostrar para mostrar é que não vale nada".


Pedro: o novo aluno mexicano interpretado por Efren Ramirez segue a mesma linha de deadpan, com uma expressão idiota presente em todo o filme. Talvez por isso mesmo ele e Napoleon sejam os melhores amigos. Mas onde Napoleon prima pela completa alienação e certa arrogância, já Pedro parece ser um simpático autista com uma clara ambição política de se tornar presidente da associação de estudantes ou mesmo um reputado agrónomo no futuro, e com uma certa humildade ( ou seria melhor dizer burrice ) nutre uma grande admiração pelo seu melhor amigo.


Tio Rico: John Gries é exactamente o contraponto ao deadpan de Heder e Ramirez e rouba o protagonismo em cada cena que entra. O seu Tio Rico é uma excelente interpretação cheia de uma absoluta canastranice de um homem cuja vida parece ter parado em 1982 e alimenta o sonho perdido de se tornar jogador de futebol americano profissional. Mas onde o Tio Rico parece ser bem mais inteligente que os outros, acaba demonstrando que nem isso o salva da obcessão ( ou burrice ) de querer voltar atrás no tempo... e gastar um dinheirão numa máquina do tempo comprada na net.


Kip: Aaron Ruell é Kip, o irmão (bem) mais velho de Napoleon e é a verdadeira imagem da perfeita inutilidade. Com 32 anos, sem emprego e um bigode ridículo, passa os dias no chat com a sua alma gémea, utilizando uma obsoleta ligação dial-up que deixa a avó irritada com as contas telefónicas.






Deb: Tina Majorino compõe a personagem provavelmente mais "normal" do grupo, não fosse estar bastante apaixonada por Napoleon ( vá-se lá entender porquê mas parece que neste universo ninguém bate bem da telha ). Sem necessariamente ser deslumbrante, é a bonita e tímida girl-next-door com o cabelo apanhado em várias posições diferentes na cabeça e um forte sentido estético preso nos anos 80, evidente na sua maneira de vestir e nas pirosas fotografias que tira em parttime no centro comercial.



O fenómeno cult.
Como já referi no princípio do post o filme foi um surpreendente sleeper-hit nos EUA e parece ter estabelecido a comédia "quirky" independente como um valor quase seguro senão nas bilheteiras pelo menos nas suas comunidades de "seguidores" que decoram frases do filme, expressões que se tornaram populares como "sweet" ou "gosh", ou investem em merchadising como as tshirts "Vote for Pedro". Como filme de culto que se preze, a cidade de Preston tornou-se subitamente um local de peregrinação. À semelhança das Lebowskyfest ou convenções Star Wars e Star Trek, o filme deu lugar a festivais locais onde com maior ou menor êxito os fãs encontram-se para celebrar o filme...quando se pensava ser impossível aumentar a freakalhada do filme, e eis surgem provas de dança, concursos de disfarces e de recriação de cenas. Certo é que Jared Hess tornou a sua cidade natal num mostruário de pessoas bizarras ( afinal grande parte dos figurantes e alguns actores são simplesmente isso, cidadãos da terra ), mas provavelmente ninguém fez tanto para colocar esta pequena cidade de cerca de 4000 habitantes perdida num estado rural no mapa.

A banda-sonora:
Completamente eclética. Temos uma cover do conhecido tema "Music For A Found Harmonium" do colectivo Penguin Cafe Orchestra. Temos o conhecido tema original "Forever Young" dos Alphaville. Temos Canned Heat dos Jamiroquai numa surpreendente cena de dança de Napoleon. E principalmente o tema "The Promise(1988)" da obscura banda When In Rome. Confesso que ouvi esta música há tantos anos que me ficou no ouvido mas não sabia nem o título nem que cantava. Valeu a pena ficar a ver o filme até o final, quando a música começa a tocar. Não o tivesse feito jamais teria (re)descoberto esta música. Ironicamente, o único sucesso desta banda ganhou graças a este filme uma maior popularidade que a que teve no seu dia e relançou a carreira dos seus membros no circuito mais independente.
A minha escolha pessoal para "cena buéda bem filmada":
Por motivos pessoais sem dúvida a cena final, romântica na medida dos possíveis com estes personagens e por me ter dado a (re)descobrir uma música que esteve no limbo da minha memória durante 15 largos anos. Em relação aos grandes planos, as paisagens do Idaho rural constrastam fortemente com a completa "quirkyness" dos seus personagens. Por motivos técnicos aquela que é eventualmente a cena mais famosa do filme, Napoleon dançando ao som de Canned Heat, dos Jamiroquai.


Factor Geek/Nerd: bem alto! Temos referências muito interessantes aos anos 80 na estética visual e sonora e...um poster do DRAGONSLAYER! YES!!! Se o que procuramos é o factor FREAK então este filme parte a escala.

Factor Mainstream: inofensivo. Actores desconhecidos, algum que outro veterano e a maior lista de extras já presentes num genérico final - a inteira população estudantil da Escola Secundária de Preston. Haley Duff, pseudo-celebridade irmã da "cantora" Hillary Duff não incomoda, limitando-se a fazer um papel que lhe assenta como uma luva: a aluna popular e arrogante. O elenco posteriormente virá a trabalhar em projectos mais comerciais, com maior ou menor sucesso. Jared Hess realizará com mais meios a comédia NACHO LIBRE com Jack Black.


Posso recomendar? Dificilmente; posso é ACONSELHAR a qualquer pessoa, recomendar não porque é um gosto que se adquire. Para uma chuvosa noite de cinema em casa com os amigos geeks e umas quantas cervejas é altamente recomendado. Para uma noite romântica? A não ser que a rapariga a conquistar seja uma geek assumida, nem penses sequer nisso! Provavelmente ela nunca mais vai querer ver-te - limita-te à irritante comédia romântica de costume (aka chick movie), basta procurar uma que tenha caras bonitas bonitas, fundo branco e letras vermelhas ( 95% ), pode doer-te no momento, mas penso o que lhe doeria a ela ver NAPOLEON DYNAMITE. Isto não é um filme para sociabilizar a não ser com amigos que estejam na mesma onda. Mas com o INCEPTION quase a estrear, não será mais inteligente convidá-la para ir ao cinema?


O Meu Veredicto: comecei a ver, detestei. Continuei a ver, comecei a gostar. No fim do filme, a cereja no topo foi vindo sabe-se lá de onde, uma canção que levei 15 anos a poder voltar a ouvir. Se gostei ao ponto de investir no DVD? Claro! Com legendas em português e a 5,50€ portes incluídos!. Há quem considere este um dos filmes mais cómicos, há quem considere um dos filmes mais parvos...eu, de minha parte apenas sei que gosto e ri-me bastante! E quem no entanto aguentou o filme até final do genérico final já se pode considerar um fã, e tem como extra o casamento de Kip e Lafundwa. Infelizmente não encontrei o video online...


TRAILER:



NAPOLEON DYNAMITE, EUA 2004
Director: Jared Hess. Argumento: Jared e Jerusha Hess
Com: Jon Heder, Efren Ramirez, Tina Marjorino, Aaron Ruell, Jon Gries

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Critica do dia: BRICK

Um tijolo na cabeça

Aqui está um filme que queria ver há muito tempo. Desconheço se chegou a ter estreia em Portugal no circuito comercial ou mesmo em DVD. O que é uma pena porque é do melhorzinho que tenho visto ultimamente, e tem dois grandes actores que por coincidência fazem parte do tal elenco de sonho de INCEPTION: Joseph Gordon-Levitt que começa a marcar pontos em papéis pós-adolescentes e que tem uma parecença física mais que evidente com o Heath Ledger ( e talvez a sua presença em Inception seja razão para acreditar num possível Joker de "substituição" num próximo Batman dirigido pelo Christopher Nolan ) e Lucas Haas, actor da geração DiCaprio sempre mais ao lado das grandes produções e eternamente relegado para o papel de secundário ( não que isso seja necessariamente mau ), se bem me recordo o único filme em que foi personagem central ( embora o actor principal fosse o Harrison Ford ) foi em WITNESS - TESTEMUNHA, no papel de um miúdo Amish, testemunha de um crime.


Normalmente evito ver teen movies mas este filme marca a diferença porque de adolescente tem apenas o meio envolvente de pequena cidade californiana. Em BRICK, do realizador Rian Johnson, as personagens estão mais perto de qualquer filme noir dos anos quarenta/cinquenta do que a bazófia de costume dos jovens americanos de hoje em dia. É um neo-noir com os melhores elementos do género, mas o ambiente de mistério tanto remete a esses clássicos do cinema a preto-e-branco como a sua estranheza absorve o espectador em certos momentos para o imaginário bizarro do BLUE VELVET de David Lynch. De facto logo no princípio sabemos que não há lugar para heroísmos e que não estamos a lidar com típicos adolescentes desmiolados quando nos chega aos ouvidos os primeiros acordes de uma banda sonora envolvente da autoria de Nathan Johnson, primo do realizador ( por uma vez o nepotismo é algo positivo ).


Gordon-Levitt é Brendan, uma espécie de detective privado e (anti)herói directamente saído dos romances policiais de Raymond Chandler. Brendan é efectivamente um solitário dotado de um sentido de dedução e memória surpreendentes. Quando Emyle, sua ex-namorada, devido às más companhias, procura a sua ajuda devido a um "tijolo(brick)"=barra de heroína e é posteriormente assassinada, Brendan vê-se atirado no meio de uma complicada trama com estranhas personagens onde nada é o que parece, jovens de uma típica escola secundária americana que se comportam e falam com um calão mais próximo dos filmes noir que dos gangs de delinquentes juvenis. Temos o detective com um passado obscuro, o informador, a ex-namorada em maus caminhos, a femme fatale, o capanga pouco inteligente com mau temperamento provavelmente cheio de esteróides de má qualidade, a autoridade chantagista na pele de director da escola ( e eventualmente único adulto interpretado por Richard Roundtree ( sim, the man Shaft) ), e principalmente o chefe do crime, apenas conhecido como The Pin.
E que personagem espectacular que compõe Lukas Haas, um aleijado que se veste de preto que sabemos ser mais velho ( e ser mais velho no universo de BRICK significa ter entre 25 e 30 anos ), é sinistro q.b., aprecia Tolkien, vive com a mãe e cuja base de operações do seu negócio de traficante de droga é um decrépito sotão apenas uma secretária antiga e alguns candeeiros, de certeza que o realizador quis fazer uma homenagem muito pessoal a David Lynch. Não fosse este um ( bem sucedido ) filme independente e The Pin podia ser facilmente colocado na categoria dos melhores ou mais conhecidos vilões do cinema.
Não vemos computadores nem ligações à net que ajudem Brendan a resolver o crime, e este apenas utiliza o telemóvel uma única vez. Não querendo dar spoilers apenas posso dizer que a trama é convulsa ( e o slang ( calão ) pode tornar-se complicado se virmos o filme apenas com legendas em inglês ) e nada é o que parece.
Altamente recomendado!


E a minha escolha pessoal de "Cena buéda bem filmada"...
Difícil porque todo o filme surpreende pela excelente direcção artística, especialmente tendo em conta que como produção independente deve ter custado "meia duzia de tostões" - falando em orçamentos de produções americanas. Cada plano parece ter sido minuciosamente elaborado, com sombras carregadas nas cenas nocturnas ou espaços abertos bem iluminados que denotam uma solidão numa atmosfera misteriosa e por vezes m uito sinistra. Desde o escritório e mini-van do The Pin com o obrigatório candeeiro art-noveau (sim, dentro da mini-van!!!), ao túnel onde o cadáver de Emily é encontrado, até ao encanto hipnótico de uma mansão recentemente adquirida e em mudanças ( porque foi o que a produção conseguiu arranjar à ultima da hora ), cada plano é uma lição de bem compor e fazer cinema com o talento e meios certos. De nota a utilização de reverse motion para a composição de uma imagem sonhada, onde apenas um saco de lixo filmado ao contrário faz maravilhas, provavelmente o efeito especial mais efectivo e barato que já vi. Infelizmente não consegui encontrar essa cena online mas quem tiver o bom gosto de ver este filme saberá do que estou falando...


TRAILER



Brick, EUA 2005
Realizador/ Argumentista: Rian Johnson
Com: Joseph Gordon-Levitt, Emilie de Ravin, Nora Zehetner, Matt O'Leary, Noah Fleiss, Lukas Haas, Brian J. White, Meagan Good, Noah Segan e Richard Roundtree.

domingo, 18 de julho de 2010

Inception: 1º dia

...ainda não teve estreia mundial e só nos USA já fez 20 milhões de dólares, de um custo de 150 milhões. Nada mau, prevê-se uma excelente carreira comercial, e não só as críticas especializadas têm sido excelentes como encontra-se em 83º lugar no top de preferências do Internet Movie Database ( O site-referência de cinema ), o que não é novidade para o Christopher Nolan; 6 dos seus 8 filmes estão no top dos 250 melhores filmes. É altamente improvável que arrecade sequer metade do que BATMAN: DARK KNIGHT conseguiu ( 1000 milhões de dólares em todo o mundo ) mas não estamos falando de uma sequela de um filme baseado numa personagem de BD bem estabelecida no imaginário cultural de todo o mundo, nem temos ( felizmente ) a morte de um actor talentoso que foi infelizmente a melhor publicidade para o papel da sua vida ( Heath Ledger como Joker ). Em vez disso temos uma história completamente nova e principalmente original que é coisa que não acontece hoje em dia.
Estou cansado ( não, a ressaca já passou há muitas horas ), são 6h30 da manhã e cheguei agora do meu part-time de sábado à noite, por isso este é o post do dia ( anterior porque é o que dá escrever depois da meia noite ). Asta mañana!