segunda-feira, 19 de julho de 2010

Critica do dia: BRICK

Um tijolo na cabeça

Aqui está um filme que queria ver há muito tempo. Desconheço se chegou a ter estreia em Portugal no circuito comercial ou mesmo em DVD. O que é uma pena porque é do melhorzinho que tenho visto ultimamente, e tem dois grandes actores que por coincidência fazem parte do tal elenco de sonho de INCEPTION: Joseph Gordon-Levitt que começa a marcar pontos em papéis pós-adolescentes e que tem uma parecença física mais que evidente com o Heath Ledger ( e talvez a sua presença em Inception seja razão para acreditar num possível Joker de "substituição" num próximo Batman dirigido pelo Christopher Nolan ) e Lucas Haas, actor da geração DiCaprio sempre mais ao lado das grandes produções e eternamente relegado para o papel de secundário ( não que isso seja necessariamente mau ), se bem me recordo o único filme em que foi personagem central ( embora o actor principal fosse o Harrison Ford ) foi em WITNESS - TESTEMUNHA, no papel de um miúdo Amish, testemunha de um crime.


Normalmente evito ver teen movies mas este filme marca a diferença porque de adolescente tem apenas o meio envolvente de pequena cidade californiana. Em BRICK, do realizador Rian Johnson, as personagens estão mais perto de qualquer filme noir dos anos quarenta/cinquenta do que a bazófia de costume dos jovens americanos de hoje em dia. É um neo-noir com os melhores elementos do género, mas o ambiente de mistério tanto remete a esses clássicos do cinema a preto-e-branco como a sua estranheza absorve o espectador em certos momentos para o imaginário bizarro do BLUE VELVET de David Lynch. De facto logo no princípio sabemos que não há lugar para heroísmos e que não estamos a lidar com típicos adolescentes desmiolados quando nos chega aos ouvidos os primeiros acordes de uma banda sonora envolvente da autoria de Nathan Johnson, primo do realizador ( por uma vez o nepotismo é algo positivo ).


Gordon-Levitt é Brendan, uma espécie de detective privado e (anti)herói directamente saído dos romances policiais de Raymond Chandler. Brendan é efectivamente um solitário dotado de um sentido de dedução e memória surpreendentes. Quando Emyle, sua ex-namorada, devido às más companhias, procura a sua ajuda devido a um "tijolo(brick)"=barra de heroína e é posteriormente assassinada, Brendan vê-se atirado no meio de uma complicada trama com estranhas personagens onde nada é o que parece, jovens de uma típica escola secundária americana que se comportam e falam com um calão mais próximo dos filmes noir que dos gangs de delinquentes juvenis. Temos o detective com um passado obscuro, o informador, a ex-namorada em maus caminhos, a femme fatale, o capanga pouco inteligente com mau temperamento provavelmente cheio de esteróides de má qualidade, a autoridade chantagista na pele de director da escola ( e eventualmente único adulto interpretado por Richard Roundtree ( sim, the man Shaft) ), e principalmente o chefe do crime, apenas conhecido como The Pin.
E que personagem espectacular que compõe Lukas Haas, um aleijado que se veste de preto que sabemos ser mais velho ( e ser mais velho no universo de BRICK significa ter entre 25 e 30 anos ), é sinistro q.b., aprecia Tolkien, vive com a mãe e cuja base de operações do seu negócio de traficante de droga é um decrépito sotão apenas uma secretária antiga e alguns candeeiros, de certeza que o realizador quis fazer uma homenagem muito pessoal a David Lynch. Não fosse este um ( bem sucedido ) filme independente e The Pin podia ser facilmente colocado na categoria dos melhores ou mais conhecidos vilões do cinema.
Não vemos computadores nem ligações à net que ajudem Brendan a resolver o crime, e este apenas utiliza o telemóvel uma única vez. Não querendo dar spoilers apenas posso dizer que a trama é convulsa ( e o slang ( calão ) pode tornar-se complicado se virmos o filme apenas com legendas em inglês ) e nada é o que parece.
Altamente recomendado!


E a minha escolha pessoal de "Cena buéda bem filmada"...
Difícil porque todo o filme surpreende pela excelente direcção artística, especialmente tendo em conta que como produção independente deve ter custado "meia duzia de tostões" - falando em orçamentos de produções americanas. Cada plano parece ter sido minuciosamente elaborado, com sombras carregadas nas cenas nocturnas ou espaços abertos bem iluminados que denotam uma solidão numa atmosfera misteriosa e por vezes m uito sinistra. Desde o escritório e mini-van do The Pin com o obrigatório candeeiro art-noveau (sim, dentro da mini-van!!!), ao túnel onde o cadáver de Emily é encontrado, até ao encanto hipnótico de uma mansão recentemente adquirida e em mudanças ( porque foi o que a produção conseguiu arranjar à ultima da hora ), cada plano é uma lição de bem compor e fazer cinema com o talento e meios certos. De nota a utilização de reverse motion para a composição de uma imagem sonhada, onde apenas um saco de lixo filmado ao contrário faz maravilhas, provavelmente o efeito especial mais efectivo e barato que já vi. Infelizmente não consegui encontrar essa cena online mas quem tiver o bom gosto de ver este filme saberá do que estou falando...


TRAILER



Brick, EUA 2005
Realizador/ Argumentista: Rian Johnson
Com: Joseph Gordon-Levitt, Emilie de Ravin, Nora Zehetner, Matt O'Leary, Noah Fleiss, Lukas Haas, Brian J. White, Meagan Good, Noah Segan e Richard Roundtree.

1 comentário:

Ricardo disse...

tb vi este... o Gordon-Levitt em grande pá

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