CRÍTICA DO DIA: THE NUGGET/ A PETITA

"Mate", estamos podres de ricos...
tens contigo 1 dólar para as cervejas?

Hoje vou falar de um filme 100% inédito ( que seja do meu conhecimento ) no circuito comercial/vídeo em Portugal. THE NUGGET ( A PEPITA ) é uma comédia australiana muito bem amanhada, cujo principal ( e porventura ) único trunfo é ser protagonizada pelo australiano mais em voga nos últimos 10 anos ( se pusermos de parte o Hugh Jackman ou o (infelizmente falecido) Heath Ledger ): o ERIC BANA.

Fui actor principal nestes filmes e mesmo assim
a malta continua a não saber como me chamo...

Sempre segui com muito interesse e  curiosidade a carreira dele deste que li algures pelo ano 2001/2002 que tinha sido seleccionado para protagonizar o primeiro ( em parte falhado ) HULK. Depois de tê-lo visto em BLACK HAWK DOWN num papel secundário mas como sempre um autêntico scene-stealer fiquei ainda mais curioso em saber de onde raio tinha aparecido. Adquiri por uma bagatela o filme que o projectou internacionalmente ( e inédito em Portugal ), CHOPPER do qual falarei num próximo post mais elaborado e fiquei com curiosidade neste pequeno filme que terá custado algo como 350 mil euros ( que para os padrões de produção australianos calculo que possa ser o orçamento médio/mínimo de uma produção para cinema ). Não deixa de ser curioso que este filme seja de 2002, ou seja, quando Bana estava já prestes a fazer o seu “mergulho” em Hollywood ( pós BLACKHAWK DOWN, pré THE HULK ) e tenha optado por fazer esta pequena comédia em vez de ficar com o papel de Xander Cage no filme que ( pelo menos efemeramente, até se espalhar ao comprido em THE CHRONICLES OF RIDDICK ) consagrou VIN DIESEL como nova estrela de acção e valor absoluto de bilheteiras: xXx. Se fez bem ou mal isso nunca saberemos, o certo é que Bana neste filme faz uma espécie de regresso às origens bem conhecidas do público australiano e quase desconhecidas do resto do mundo. Continua a não ser um actor tão reconhecido como o Hugh Jackman mas onde os seus papéis em produções americanas primam por uma grande seriedade, aqui vê-se como se move bem na comédia australiana; antes de ser conhecido internacionalmente, era apenas conhecido no seu país natal como…comediante.

"Mate", isto é coisa de "aussie", os "blokes" acima
do equador nunca irão entender...

Regra Nº1 para ninguém saber que estamos ricos:
tirar fotos com uma pepita de ouro de 250 kg e mandar revelar
o rolo no estúdio fotográfico da cidadezinha de 500 habitantes...

E quem se tiver dado ao trabalho de ver uma comédia australiana sabe que o ponto comum é o reflexo do próprio país que tem tanto de atractivo como de estranho e pitoresco para nós “meros europeus”. Todos nos lembramos de certeza do CROCODILO DUNDEE. Aqui não temos a maneira de estar exótica de um filme de certo modo feito para consumo externo mas sim um retrato dos australianos típicos, os “blokes ( fulanos )” cujo dia-a-dia é intercalar o trabalho da maneira mais preguiçosa possível com muita cerveja pelo meio e esquemas mais ou menos ( nunca ) bem sucedidos para ganhar umas massas extras. Não se aproximam em nada do “trailer park white trash” esteoreotipado do sul dos EUA ( que nós tão bem conhecemos em Portugal graças ao EARL ), aliás os próprios australianos têm a sua versão chamados “brogan”. Quanto muito as camisas de flanela, jeans gastos, bonés, fins de semana preguiçosos no mato, cerveja e muscle cars (a cair aos pedaços que há muito tempo perderam o musculo e estão mais pela ferrugem) estão sempre presentes e mesmo para quem apenas associe a Austrália com cangurus é extremamente fácil assimilar que é tudo uma parte de uma maneira de viver no seu todo muito singular…muito "aussie". Porque parece ser do conhecimento comum que o australiano suburbano gosta de estar no mato, gosta da camaradagem e claro, gosta de cerveja…e quando escutamos o termo australiano mais internacional e conhecido ( MATE ( o equivalemente ao nosso “pá, meu, ´migo, bacano” )) sabemos que vamos levar com um turbilhão de bem humoradas calinadas com um sotaque que só eles mesmos entendem. Tanto que só na Austrália sabemos que ainda se torna viável utilizar um detector géiser na esperança (embora escassa) de encontrar OURO perto de uma pequena cidade da província ( estamos no século XXI ). E é mesmo isso que acontece, quando três amigos num desses fins de semana a coçar a micose e a beber cerveja encontram a maior pepita de ouro do mundo. Porém nenhum deles é propriamente um génio, primando apenas por uma esperteza saloia de tentar esconder e explorar uma pepita de 250 kg numa cidadezinha que deve ficar a 200 kms de sítio nenhum. E as situações disparatadas sucedem-se enquanto a ganância pessoal de cada um começa lentamente a surgir à superfície contra todos os valores tão australianos da camaradagem. Cá pessoalmente se fosse entre nós já se tinham matado à facada. A narrativa em parte faz lembrar filmes como O GRANDE LEBOWSKI com um narrador que não sabemos muito bem se é uma personagem real ou uma alegoria e mesmo filmes do Guy Ritchie como LOCK,STOCK AND TWO SMOKING BARRELS e SNATCH com a sua apresentação das personagens ( Lotto é o jogador mais azarado do mundo, Wookie só pensa em teorias da conspiração e Sue é tão preguiçoso que qualquer tarefa que implique levantar-se da sua cadeira de praia exige-lhe um esforço enorme ) mas sem o enredo intrincado e nenhum do crime, porque isto é basicamente uma comédia com bons e maus da fita mas sem violencia por trás ( se exceptuarmos o abatimento não mostrado de dois cães vadios ) mas tudo com um grande efeito cómico porque não há pretensões para ir mais longe. Isto é comédia disparatada pura sem cair na absoluta parvoíce sem graça de SCARY MOVIES e outros SHITY MOVIES, que provavelmente será difícil de entender para um público não-australiano mas talvez mesmo por isso seja tão fácil simpatizar com os três amigos idiotas e a maneira de ser/ estar dos australianos, porque este não é um filme para consumo externo, não vemos aqui nada que identifique a Austrália como algo exótico aos nosso olhos mas sim o que é normal aos olhos deles.

"Mates", temos que pensar num plano...vamos ali ao pub.

Um destes três é ligeiramente mais inteligente
que os outros dois, mas nem por isso é inteligente...

Pois bem, sendo a personagem principal ( ou pelo menos o único actor conhecido internacionalmente no meio de um elenco australiano ) mostra que é detentor de uma comicidade natural que parece ser comum entre os actores australianos mas que raras vezes transparece nas produções americanas. É um gozo enorme depois de tantos papéis sérios vê-lo como típico “trabalhador da câmara”, ainda mais com humildade suficiente para dar igual ( ou maior ) tempo de antena de comicidade aos restantes “mates”.

MELHOR FRASE: "O Lotto era um jogador tão azarado que contagiava: apostou nas corridas num cavalo que não só ficou em último como ainda por cima teve que ser posto a dormir."

A MINHA ESCOLHA PESSOAL PARA CENA BUÉDA BEM FILMADA: num filme tão simples e sem grandes pretensões não deixa de ser irónico que a cena melhor filmada seja propriamente a do princípio em que seguimos o voo de uma catacua ( que lembramos é bicho selvagem na Australia e tão comum como as gaivotas na nossa costa ) através da bonita paisagem rural, e sem ter a complexidade ( e CGI ) da pena voadora no início do FOREST GUMP, introduz-nos facilmente à maneira de estar do australiano típico, com um pé em casa e outro no mato.

VALE A PENA COMPRAR? Vale a pena ver pelo menos, é daqueles filmes bem simpáticos que aquece mais do que arrefece. Disponibilidade em Portugal? Duvido. Download da candonga? Não comento. Comprar? Depende de quanto se quer gastar: eu não gastava €4.50 num DVD sem absolutamente extras nenhuns e SEM LEGENDAS. Quem estiver a ler isto e pensar muito orgulhosamente que “percebe inglês e já nem lê as legendas no écran” tente ver antes um filme australiano sem legendas e depois pense duas vezes se percebe mesmo inglês porque provavelmente só entendeu a palavra “mate”. Ou então ponha mais 2 ou 3 euros e adquira antes a bem mais completa e LEGENDADA ( para surdos ) edição australiana mas antes certifique-se se o seu leitor está desbloqueado ( Australia = região 4 ).

Let´s look at da traila, mate!


VEREDICTO FINAL: Pode não ouro, pode não ser brilhante mas é do mais puro ouro-de-idiotas e que bem que lhe fica :D