quarta-feira, 14 de julho de 2010

Crítica do dia: O DESPERTAR DA MENTE (ETERNAL SUNSHINE OF THE SPOTLESS MIND)

E assim repentinamente...lembrei-me
do Despertar da Mente


Por razões pessoais e de "logística" achei por bem que minha 1ª crítica seja respeitante a um dos meus filmes favoritos, Eternal Sunshine of The Spotless Mind ou como é por cá conhecido O Despertar da Mente. O problema é que eu tenho tantos filmes favoritos que estava na dúvida em qual escolher, até que, tal como o filme, este veio-me à memória quando fui meter gasolina no meu velho chaço. Assim informo desde já o seguinte: está à venda em qualquer bomba de gasolina por apenas…1,95€. É a sorte de termos algumas editoras portuguesas que colocam periodicamente bons filmes ao preço de um café mal-amanhado. Assim, quem viu e gostou do filme e ainda não o tem na sua colecção pode ir comprá-lo…a não ser que prefira beber um café mal-amanhado…PAROU! Eu disse inteligente comédia...um momento! Após visionamente o adjectivo é válido! Não estamos em território de Máscaras nem Ace Ventura, num mundo perfeito após podiamos esquecer isso!
Voltando ao filme: é uma inteligente comédia romântica de ficção-científica escrita pelo sempre genial Charlie Kaufman. A sua maior virtude: Jim Carrey...
Quem esperar uma comédia parva típica do homem de cara-de-borracha, vai ficar (muito) desiludido. Se no entanto tem o bom gosto de ver um filme diferente com uma mente aberta, não se vai arrepender. E se é daquelas pessoas que sabem que o Jim Carrey é mais que o cómico de costume um excelente actor, tem aqui motivos para se congratular e aplaudir. E eu digo neste caso que é de aplaudir e muito, muito mesmo! Nunca gostei dele como cómico, reconheço que sim, ele tem piada e pode fazer rir, mas filmes de riso fácil e forçado não são propriamente o que eu chamo bons filmes. E neste filme ele mais uma vez mostra que é um actor extremamente talentoso e enquanto não fôr reconhecido como tal ( e ainda não compreendo como a Kate Winslet foi nomeada para o Oscar e o Jim Carrey não…) lá continuará a fazer as caretas de costume nos filmes que, sejamos sinceros, o tornaram um dos cómicos mais bem pagos de Hollywood ( ok, chamem-no vendido e mostrem-me os vossos baldes do lixo ). Joel ( Jim Carrey ) é um simpático e solitário indivíduo que uma semana depois de uma discussão com a sua bem namorada Clementine ( Kate Winslet ) vai fazer as pazes com ela. Pois bem, ela não só já arranjou outro como também não o conhece. E aí começa a ficção científica; por amigos comuns Joel descobre que Clementine foi à Lacuna, uma clínica onde apagam a memória das pessoas. Movido por uma justificada dor-de-corno, Joel recorre aos mesmos serviços mas apagar as memórias de alguém é um processo que leva uma noite inteira, especialmente se os técnicos encarregados de o fazer aproveitam o tempo livre para tomar uns copos… e bem lá no fundo Joel não quer perder as boas memórias que tinha de uma relação desastrosa. Assim, parte da história passa-se dentro da mente dele e na sua tentativa heróica de salvar Clem do que lhe resta da memória. E que bem que isso é mostrado! O realizador Michel Goundry, conhecido "artista" de videoclips filma a parte subcosciente das memórias apagadas como paredes que se derrubam ou livros que perdem as capas. Sabemos que ambos são personalidades opostas, Clem é egoísta, Joel é simplesmente o que é. Ironicamente a realidade desta história fantástica está em que o que um ser humano idealiza está no seu interior e mesmo sabendo que a relação está condenada uma e outra vez à ruptura, também é verdade que os opostos se atraem porque cada pessoa sente como sente e a realidade não muda isso. Pessoalmente não senti nenhuma simpatia pela personagem de Clem mas é fácil sentirmos uma empatia por ela porque conhecemo-la através das memórias que Joel desesperadamente tenta salvar. É fácil sentirmos uma inversão de valores, no fim afinal eles até não são assim tão diferentes e como muito bem nos explica o mote do filme…é possível apagar alguém da memória mas não do coração.
Nada das caretas e espalhanços de costume por parte do Jim Carrey, a sua contenção e sinceridade fazem esquecer alguém que já foi um efeito especial de cara verde e zoot-suit amarelo. O elenco está todo excelente ( já referi que a personagem da Kate Winslett não me inspira simpatia mas isso não desvaloriza a sua interpretação ), e temos nos papéis secundários actores como os sempre excelentes Tom Wilkinson e Mark Rufallo, e mesmo a Kirsten Dunst e o Elijah "Mr. Frodo" Wood surpreendem pela positiva.Esperem novas leituras em cada novo visionamento do filme, detalhes que nos escaparam da vez anterior. E pelo preço do café mal-amanhado e se não houve alterações na edição, o DVD em si é muito interessante, especialmente o videoclip do tema principal, em si bastante original. Pergunta: como é que um realizador conhecido pela originalidade dos seus videoclips promove o tema principal sem por isso se distanciar ou corromper o filme em que é baseado. A resposta é simples: limitando-se a colocar cenas do filme, e colocando tudo ( e é mesmo TUDO, incluindo os objectos ) a cantar essa mesma música. Confiram o espectacular ( e ligeiramente "creepy") videoclip.

E a minha escolha pessoal de "Cena buéda bem filmada"...
Difícil escolher porque todo o filme é uma colecção de coloridas imagens surreais e a paisagem suburbana da pequena localidade de Mountauk no inverno dá-nos uma imagem onírica e aprazível pouco conhecida da área metropolitana de Nova York. A minha escolha pessoal vai para uma cena sem grandes artifícios, onde Clem e Joel estão simplesmente deitados no gelo a olhar para o céu. Talvez mesmo por essa simplicidade seja a imagem do cartaz…

Veredicto:
Vale ou não vale um café mal-amanhado? Há 5 anos em "full sprice" era um bom investimento, hoje a €1.95 é dado... f&%k the bad coffee!
2004, EUA
Realizador: Michel Goundry
Argumento: Charlie Kaufmann
Com: Jim Carrey, Kate Winslet, Tom Wilkinson, Mark Rufallo, Kirsten Dunst, Elijha Wood

Trailer:

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